O assassinato de um dos chefões da máfia de Israel trouxe à tona o submundo violento de um país que já convive com outros tipos de violência e que por enquanto não sabe o que fazer
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HERBERT MORAES é correpondente da TV Record em Israel. |
Meio-dia de segunda-feira. Numa das avenidas mais movimentadas de Tel Aviv de repente uma explosão. Pânico…. O carro onde estava a bomba praticamente se desintegrou. O homem que estava no veículo morreu na hora. Outras três pessoas ficaram feridas, entre elas um menino de 13 anos.
Esta história aconteceu no início da semana passada e em princípio, mídia, polícia e moradores acreditavam que era mais um ato terrorista dos palestinos. Mas se enganaram. A vítima era o chefão da máfia israelense. O Dom Corleone do submundo de Israel.
Yaakov Alperon, conhecido como Don Alperon, estava dirigindo o carro no subúrbio de Tel Aviv quando a bomba foi acionada por controle remoto. Coisa de filme.
Alperon tinha 54 anos e figurava entre os principais líderes do crime organizado em Israel, à frente do seu clã familiar desde a década de 70. A polícia teme agora uma violenta resposta e o início de uma luta interna entre famílias mafiosas. Sim, elas existem também na Terra Santa.
David Ben Gurion, o fundador de Israel, disse uma vez que “quando tiver ladrões e prostitutas Israel terá alcançado o estágio de um país normal”. O crime organizado cumpre o que o líder israelense previu há mais de 60 anos, mas com um pouquinho mais de diversificação. Além de explorar a prostituição e roubar, os mafiosos israelenses patrocinam o jogo ilegal, o tráfico de drogas e extorsão. Já tiveram até o monopólio da distribuição de ecstasy nos EUA e na Europa e hoje disputam o mesmo mercado com outros mafiosos, como os russos e os colombianos.
Marcada pela violência política gerada pelo conflito com os palestinos, a sociedade israelense está assustada com a brutalidade do crime organizado. O ataque desta semana pode ter sido o mais elaborado, mas já vêm de algum tempo ações de gangues rivais em outras cidades do país.
No final de 2003 uma bomba explodiu perto de uma casa de câmbio no sul de Tel Aviv, o alvo era Ze´ev Rosenstein. Foi a sexta tentativa de matá-lo. Ele é apontado como o principal chefe mafioso de Israel e está envolvido numa disputa que já causou pelo menos 30 mortes. Rosenstein chefia o clã que domina Tel Aviv e está em guerra com a família Albergil, da cidade de Lod (antro do tráfico de drogas), que controla a parte do crime organizado em Jerusalém. A vítima desta semana foi justamente o chefe do clã dos Albergil. Durante o enterro que levou parte da criminalidade de Israel até o cemitério e que a polícia apenas observou, já que também os teme, o filho de Yaakov prometeu vingança e disse que vai encontrar o responsável. E disse que seja quem for terá os pés, as mãos e a cabeça cortados. Isso bem na frente da polícia. Em alto e bom som para quem quisesse ouvir.
Há outros quatro grupos mafiosos importantes em Israel. Mas nem todos são judeus. Uma das grandes famílias é formada por árabes beduínos. O colapso da União Soviética permitiu a imigração de milhares de judeus russos para Israel na década de 90, com eles veio um braço da chamada máfia russa, com conexões em toda Europa Oriental, nos EUA e na América Latina. Os russos se dedicam mais à exploração da prostituição e ao tráfico de mulheres que vêm da Rússia através do Egito. Os israelenses cuidam mesmo é do jogo e do tráfico de drogas. Nos últimos cinco anos mais de 3 mil casas de jogos e mais de 2 mil bordéis clandestinos foram fechados no país, mas segundo a própria polícia é uma gota no oceano diante das inúmeras atividades ilegais que existem por aqui. Segundo estatísticas do governo só nos últimos dois anos mais de US$?3 bilhões foram lavados na economia israelense.
O ataque que matou o chefão da máfia esta semana provocou uma série de críticas ao trabalho da polícia para conter a guerra entre gangues e famílias criminosas. A explicação da inércia, segundo muitos analistas, é conseqüência principalmente do conflito com os palestinos. Como segurança é o assunto principal do país a polícia está na maioria das vezes envolvida com assuntos do establishment.
As intifadas (revolta palestina) deixam o país em estado de guerra permanente, o que permitiu que a máfia crescesse. A maior parte dos recursos e dos esforços da polícia foi direcionada para o combate ao terror palestino, dando margem para que os mafiosos espalhassem seus tentáculos no submundo israelense. O crime tomou tal proporção porque simplesmente ninguém estava prestando atenção. A polícia prometeu mudar a estratégia. A sociedade israelense aguarda ansiosa e aflita o resultado dessa suposta virada de jogo.
Fonte: Herbert Moraes Jr. Jornal Opção.