Pais, padastros, amigos da família e vizinhos são os principais responsáveis pela violência contra crianças e adolescentes. A informação foi repassada pelo Programa Sentinela, que atende vítimas de abuso e exploração sexual em Laranjeiras do Sul. A principal preocupação da equipe é que os casos estão crescendo a cada dia e se a sociedade não fizer nada, a tendência é piorar.
Do ano passado até o início deste ano, houve 14 casos de violência física, 22 casos de violência sexual, 51 casos de violência psicológica, 24 casos de negligência e 2 casos de exploração sexual. Destes, 41 são meninos, mas a maioria é menina: 77.
O pior, é que cada caso de violência não vem sozinho. Junto, há a violência psicológica. “O abuso sexual não se caracteriza apenas pela penetração. Mostrar revista pornográfica, passar a mão, seduzir e a erotização também abalam e agridem a criança”, afirma a assistente social Simone Aparecida Ribeiro, que atende no Programa Sentinela.
Outro problema enfrentado no combate à violência é a falta de denúncia por vergonha, medo ou culpa. “O que aparece é somente a ponta do iceberg. Em Laranjeiras, a maioria dos casos não são denunciados”, afirma Simone. Para reduzir o índice, a orientação é perceber os sintomas mostrados no comportamento e corpo da criança e denunciar. “Não adianta perguntar para a criança, porque na cabecinha dela, está tudo certo. Ela não fala porque o agressor sempre a está ameaçando”, avalia a pedagoga Aline Zattera.
Escolas precisam denunciar
As escolas podem ajudar a melhorar a qualidade de vida das crianças, com a redução da violência. A orientação dos profissionais que atendem a vítima é que encaminhe os casos ao Programa Sentinela para acompanhamento e orientação de toda a família. “O professor está diariamente em contato com a criança. É na escola que a criança passa a maior parte do tempo”, justifica Aline.
Caso o professor perceba manchas no corpo da criança, a dica é procurar o Conselho Tutelar, que encaminha o caso ao Sentinela. A mudança de comportamento em uma criança que sempre foi quieta e de repente aparece agressiva também pode ser sintoma do abuso sofrido em casa. “Muitas vezes, o professor chega para passar a mão e a criança já se retrai”, lembra a pedagoga.
Cultura machista favorece a violência
O comportamento da filha em alguns casos repete o padrão vivido pela mãe, em casa, sob a cultura machista e autoritária do homem da casa. “Se o pai vê a mulher como objeto, com certeza tratará a filha da mesma forma”, avalia a assistente social Simone.
O caso mais recente e comentado é do austríaco Josef Fritzl, que manteve a filha Elisabeth trancada em um porão durante 24 anos, além de tê-la estuprado sistematicamente, tendo com ela sete filhos. “Na cultura machista, o pai quer ser o primeiro homem de sua filha, já que alguém irá ‘usar’ ela um dia”.
Segundo o Programa Sentinela, há muitos casos de famílias incestuosas. “As mães sabem e não fazem nada. Quando os filhos crescem, vira um círculo vicioso”, lamenta Simone. Parafraseando poetas da educação, “por isso é importante educar as crianças hoje para não precisar punir os adultos de amanhã”.
Fatores de risco
O ambiente familiar constitui o principal contexto no qual as crianças e adolescentes foram abusados sexualmente. Entre os principais fatores de risco estão a presença de padrasto na família, abuso de álcool ou drogas, desemprego, mãe passiva ou ausente, pais desocupados e cuidando dos filhos por longos períodos de tempo e dificuldades econômicas.
Outro aspecto identificado nos casos analisados pelo Programa Sentinela foi a presença de outras formas de violência no contexto familiar, tais como, negligência e abusos psicológicos e físicos contra as crianças, bem como violência física conjugal. Além disso, a revelação do abuso sexual demonstrou modificar a relação familiar, apontando o rompimento das relações conjugais ou o afastamento da criança do convívio com os familiares.
Presos em Laranjeiras do Sul
Os crimes de estrupro, abuso e atentado violento ao pudor registrados na 2ª Subdivisão Policial de Laranjeiras do Sul envolvem não somente meninas, mas também meninos e mulheres adultas. Apesar da informação de que os casos estão crescendo, o número de culpados e punidos pelo crime está diminuindo. De 2007 para 2006, são menos presos. Em 2006 foram 11 pessoas. Em 2007 apenas nove. Já em 2008, sete pessoas foram presas até a última semana.
Um dos casos envolve o agricultor de Marquinho, Marcos Dirceu Marcondes, de 51 anos (foto). Segundo a vítima, Marcos Dirceu teria lhe ofertado R$ 5 para que a menina de 11 anos fosse com ele para um local escuro. Lá, ele passou a molestá-la e tentou tirar sua roupa e fazer sexo com a garota, salva pelo irmão de 12 anos que chamou sua mãe e os populares que estavam em uma festa comunitária.
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